A tecnologia é maravilhosa. Ela não nasce sem despertar alguns riscos e temores, é claro, mas sempre amplia os horizontes, quebra expectativas e nos permite explorar o desconhecido. Os riscos são apenas parte de um percurso de sucesso e progresso. Isso porque a tecnologia é um campo de conhecimento potencial, gerador de ferramentas que podem ser usadas para os mais diversos propósitos.
Pode ser intimidador abraçar certas novidades, mas quando o fazemos, nos encantamos com o que pode ser alcançado. De certa forma, esse equilíbrio entre otimismo e temor é o que venho observando nos últimos tempos quando leio sobre inteligências artificiais (IAs) generativas, como o ChatGPT. E isso me fez desejar compartilhar algumas reflexões.
Alguns dados interessantes que encontrei em publicações recentes na imprensa, apontaram uma pesquisa realizada pela PitchBook afirmando que o investimento de capital de risco em IAs generativas cresceu 425% entre 2020 e 2022, chegando a US$ 2.1 bilhões. Isso se deu, aparentemente, pela popularização de algumas dessas ferramentas, sobretudo nos últimos meses, dado seu desenvolvimento de arte digital e escrita com aspecto mais humano. A PitchBook ainda apontou que com essa evolução recente, em pouco mais de um ano, investidores apostaram pelo menos U$ 1.37 bilhão em 78 negócios ligados a IAs generativas, quase o mesmo tanto do que foi investido nos últimos cinco anos anteriores combinados.
E essa atenção não vem apenas de investidores. A ferramenta de IA generativa que está sendo mais discutida no momento é o ChatGPT. Desenvolvido pela OpenAI, uma organização sem fins lucrativos de pesquisas com IA, fundada em 2015 por um grupo de empresários, pesquisadores e filantropos, o ChatGPT tem o propósito de gerar conteúdo de forma a simular uma conversa humana real via mensagens de texto.
Lançada no fim de 2022, ela angariou milhões de usuários rapidamente, o que alimentou ainda mais o seu banco de dados, a tornando mais e mais complexa e completa, mesmo ela já sendo bem diversa em sua base inicial. A ferramenta pode responder a perguntas variadas e dentro de inúmeros assuntos, porém diferente dos bots tradicionais, sem usar textos prontos, pré-programados e que circulam dentro de uma gama específica de respostas que podem ser dadas, ou seja, trata-se, de fato, de uma tecnologia realmente muito sofisticada e valiosa.
Curiosamente, experimentei recentemente o GPT-3 utilizando o OpenAI Playground, no programa OPM (Owner/President Management) que estou cursando em Harvard. Durante o curso, feito em conjunto com 166 líderes de negócios de 40 países, usei a ferramenta no contexto de ler os estudos de caso para dar opiniões e discutir o que estava escrito, o que se apresentou uma experiência fantástica. Voltando especificamente ao ChatGPT, em breve, a ferramenta será incorporada ao OpenAI Azure, ecossistema da Microsoft, algo que possivelmente irá gerar uma série de novas aplicações com IA. Como a Certsys, empresa que fundei, é parceira da Microsoft, foi muito bom me inteirar desse tipo de ferramenta em primeira mão.
O potencial é imenso, sobretudo para os campos de pesquisa e de negócios. A geração de conteúdo, a tradução, o atendimento ao cliente, tudo isso vai ser muito mais facilmente automatizado graças a ela. Os tradicionais bots para automação serão elevados a um novo patamar, possibilitando que se atenda melhor, mais rápido e de forma mais eficiente, por exemplo. O ChatGPT pode, inclusive, dar conselhos, contar piadas e analisar o mercado financeiro. Apesar disso, há de se lembrar que ela é uma ferramenta de consulta, ou seja, os conteúdos não são criados do zero, ela o gera a partir do conhecimento existente.
Se tornará mais fácil, por exemplo, conhecer o perfil de um cliente e indicar a ele o que melhor se adequa à sua necessidade de forma automática. É uma especialização de tarefas que já realizamos. Apesar disso, como comentei antes, há algumas preocupações com riscos do seu uso, o que faz parte do processo de adoção de uma inovação.
Como uma aplicação focada em conseguir respostas sobre assuntos diversos, e que trabalha com o conhecimento que já existe, ela está sujeita a gerar interpretações erradas. O usuário que estiver interagindo com a IA pode tomá-la como uma pessoa real e se sentir ofendido ou enganado por ser erroneamente instruído por um “alguém” que julgava ser um humano. A partir disso, ao invés de engajar o cliente, isso pode afastá-lo. Entretanto, é natural que isso ocorra em certo grau, o potencial é grande demais para que certos riscos não existam. IAs, robôs, todos são ferramentas. Quem os usa é que precisa direcioná-los, e cabe a nós as discussões pertinentes envolvendo ética, legislação, regulação, direcionamento e limites.
Além disso, a sociedade muda junto com as tecnologias, explorando cada vez mais utilidades e se protegendo contra possíveis ameaças. Um exemplo interessante é o de como mudamos nossa perspectiva sobre filmar o cotidiano constantemente. Há alguns anos, o medo predominava sobre o assunto, quando a discussão se voltou ao uso de óculos que pudessem gravar imagens em tempo real na rua. Hoje em dia, todos fazem vídeos para as redes sociais constantemente, e isso simplesmente deixou de ser uma questão. Lives são comuns e a produção de conteúdo é anunciada por quem produz. Isso não quer dizer que deixamos de considerar direitos de imagem, privacidade, segurança de dados e a segurança pessoal. Apenas adaptamos o modo como lidamos com o que realmente é crime e o que é geração de conteúdo.
Vale ressaltar, ainda, que como toda ferramenta de deep learning, o ChatGPT não pode “justificar” suas respostas. Não é uma inteligência real gerando conhecimento, mas pode ser um excelente apoio ao se pesquisar algo novo. Um alerta válido é lembrar que o ChatGPT também pode gerar informações incorretas ou produzir instruções perigosas ou conteúdo tendencioso, algo que a própria OpenAI deixou claro. É uma ferramenta que evolui com a interação, e a organização tem por um de seus valores principais a preocupação com o desenvolvimento ético envolvendo a IA.
Estamos diante de um curioso futuro que será escrito por IAs e humanos em conjunto, porque o pensamento original ainda é humano, mas ele pode se tornar mais elaborado e complexo se apoiado por IAs que nos poupam do trabalho “de formiguinha”, pesquisando por certos temas que já são parte do conhecimento geral da humanidade. Essa é a base da automação, que pode estar em contextos empresariais, de pesquisa, de sociedade etc. Eu, particularmente, vejo o ChatGPT e as IAs generativas como um passo importante em direção a um futuro de oportunidades e resultados brilhantes!
*Stiverson Palma é CEO da Certsys.
Sobre a Certsys
A transformação digital deve ser contínua e baseada em pessoas para gerar resultados efetivos aos negócios. Essa é a premissa da Certsys, que há 15 anos atua como consultora e parceira de estratégia de negócios digitais de grandes empresas dos setores financeiro, governamental, securitário, varejista, industrial, entre outros. Para apoiar na evolução dos negócios das companhias, oferece um portfólio com soluções de parceiros internacionais, além de criações customizadas desenvolvidas por seu laboratório de inovação nas áreas de Hyperautomation, Data & Analytics, Cloud & Platform, Data Protection & Compliance, Digital Products & Squads e FP&S – Financial Products & Services. A Certsys atualmente emprega mais de 550 profissionais.
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