Um novo estudo da Universidade de Oxford, Reino Unido, indica que o uso de colistina antimicrobiana, um antibiótico empregado há décadas na criação de porcos e frangos na China para aumentar seu peso, resultou no surgimento de cepas da bactéria Escherichia coli mais resistentes às nossas defesas naturais.
A pesquisa, liderada por Craig MacLean do Departamento de Biologia, revelou que uma cepa de E. coli com um gene de resistência, chamado MCR-1, apresentou maior probabilidade de escapar da primeira linha de defesa do organismo. O estudo envolveu a exposição dessa cepa aos peptídeos antimicrobianos (AMPs) – componentes essenciais do sistema imunológico – presentes em galinhas, porcos e humanos. Além disso, os pesquisadores testaram como as bactérias reagiam ao contato com o soro humano.
Os resultados mostraram que a E. coli com o gene MCR-1 era pelo menos duas vezes mais resistente à ação do soro humano. Em média, o gene aumentou a resistência aos AMPs humanos e animais em 62% em comparação às bactérias que não possuíam o gene.
O soro humano é a parte líquida do sangue que sobra após a coagulação e a remoção das células sanguíneas, como glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas. Ele é frequentemente usado em pesquisas científicas para avaliar a interação entre substâncias ou microrganismos e o sistema imunológico humano.
Ameaça global
A resistência antimicrobiana é uma ameaça global crescente. A ONU estima que até 10 milhões de pessoas por ano podem morrer até 2050 devido a superbactérias. Os pesquisadores alertam para os riscos potenciais ainda não identificados. “O perigo é que, se as bactérias desenvolverem resistência a [medicamentos baseados em AMP], isso também pode torná-las resistentes aos pilares do nosso sistema imunológico”, explica MacLean.
O uso excessivo de antibióticos na criação de animais destinados ao consumo humano tem sido uma preocupação crescente entre cientistas e profissionais de saúde. A prática tem sido adotada principalmente para promover o crescimento mais rápido dos animais e prevenir infecções em ambientes de criação intensiva. No entanto, isso contribui para a propagação de bactérias resistentes aos antibióticos, que acabam entrando na cadeia alimentar e afetando os seres humanos.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) tem enfatizado a necessidade de reduzir o uso de antibióticos na produção animal e incentivar práticas mais sustentáveis e responsáveis. Além disso, a OMS recomenda que os antibióticos usados na medicina humana não sejam utilizados na produção animal para evitar a propagação de resistência antimicrobiana.
Países em todo o mundo têm tomado medidas para limitar o uso de antibióticos na criação de animais e promover práticas de criação mais saudáveis. Por exemplo, a União Europeia proibiu o uso de antibióticos como promotores de crescimento em 2006, e o Brasil baniu o uso de colistina em 2017. Além disso, iniciativas de conscientização e campanhas educacionais estão sendo implementadas para informar produtores, profissionais de saúde e consumidores sobre os riscos associados ao uso excessivo de antibióticos na criação animal.