Em um avanço significativo para a medicina veterinária, pesquisadores da Universidade Federal do Ceará (UFC) desenvolveram uma técnica cirúrgica inovadora que utiliza uma membrana rica em colágeno feita a partir da pele de tilápia-do-nilo para restaurar a visão de cães com úlceras ou lesões graves na córnea.
A membrana, utilizada como curativo pós-cirúrgico, tem demonstrado acelerar a cicatrização e induzir a regeneração da córnea. Desde sua introdução, mais de 400 cães tiveram a saúde ocular recuperada graças a essa técnica nos últimos quatro anos.
A inovação reside no uso da pele de tilápia, que passa por um processo de remoção de escamas e células, deixando apenas o colágeno. Este biotecido surgiu como uma alternativa de baixo custo em comparação com membranas importadas feitas de material bovino ou suíno.
Liderado pela veterinária Mirza Melo, no Centro de Olhos Veterinário, clínica particular, o estudo comparou o uso da matriz da pele de tilápia com outras membranas e enxertos, constatando sua superioridade em termos de tempo de cicatrização. A pesquisa foi reconhecida com o prêmio de melhor trabalho no Congresso Brasileiro de Oftalmologia Veterinária em 2021, e o relato do primeiro caso foi publicado na revista Brazilian Journal of Animal and Environmental Research em 2022.
Esta técnica é parte de uma investigação mais extensa sobre o uso medicinal da pele de tilápia, iniciada em 2014. O biotecido de tilápia já provou ser eficaz em várias aplicações médicas, incluindo o tratamento de queimaduras e reconstrução do canal vaginal.
Antes de ser aplicado, o biotecido passou por diversos ensaios laboratoriais para a caracterização e produção da matriz dérmica. Os testes de resistência, citotoxicidade e desintoxicação mostraram resultados satisfatórios, atestando a viabilidade da matriz.
Diante dos resultados promissores em cães, os pesquisadores estão aprimorando a matriz para aplicação em humanos, com expectativas de iniciar estudos em voluntários. Especialistas da área médica veem essa estratégia como interessante e destacam que existem outros grupos de pesquisa explorando tecidos descelularizados para diferentes aplicações, tanto em tratamentos veterinários quanto em humanos.
O avanço representado por essa técnica, desenvolvida na UFC, coloca a universidade e os pesquisadores envolvidos na vanguarda da pesquisa em biotecnologia e medicina regenerativa. Com os resultados positivos obtidos até agora e os estudos futuros em humanos, a membrana de tilápia tem o potencial de se tornar um recurso valioso na medicina, oferecendo esperança para aqueles que enfrentam problemas de visão e outras condições médicas.