A construção de uma usina de dessalinização na Praia do Futuro, em Fortaleza, vem causando preocupações entre especialistas e operadoras de telecomunicações. O projeto, que tem como objetivo transformar água do mar em água potável, promete ampliar a oferta de água na região metropolitana da cidade em 12%.
Contudo, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e diversas operadoras de internet estão questionando a viabilidade do projeto devido à localização escolhida. A Praia do Futuro é ponto de passagem de 17 cabos submarinos pertencentes a oito empresas, uma infraestrutura vital para a conectividade do Brasil e de outros países.
Em 2022, a Anatel já havia manifestado sua oposição ao projeto, mas, após ser notificada sobre modificações no mesmo em agosto de 2023, atualmente avalia os novos detalhes apresentados. A Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) assegura que as alterações minimizam os riscos, destacando a mudança do ponto de captação da água para uma área mais distante dos cabos.
Contudo, associações como a TelComp e a Conexis expressaram reservas quanto à localização escolhida para a obra. Ambas consideram a discussão sobre a construção da usina legítima e necessária, mas questionam se a Praia do Futuro é o local mais adequado.
O professor Yuri Victor Lima de Melo, da Universidade Federal do Ceará (UFC), explicou ao g1 que as operações da usina podem causar alterações no assoalho oceânico, potencialmente afetando o posicionamento e a integridade dos cabos submarinos. “Qualquer obra na região sem uma boa comunicação entre empresas de telecomunicações e a usina pode levar ao rompimento de um cabo”, alerta.
“A usina vai puxar água do assoalho oceânico para tirar o sal. Essa sucção vai alterar o fundo do mar, mudando a topografia da região. E, mudando a topografia, os cabos vão se movimentar, o que também pode causar o rompimento de algum deles”, afirma o professor.
Thiago Ayub, diretor de tecnologia da Sage Networks, reforça a importância estratégica de Fortaleza para a conectividade global e afirma que a usina representa um “risco permanente” para a infraestrutura de cabos. “A consequência vai ser ou parada total para algumas empresas ou, para aquelas que não tiverem uma parada total, vão ter a performance da internet severamente degradada. Até outros países podem ser afetados por essa ruptura.”, afirma Ayub.
A capital cearense, pela sua localização geográfica e características favoráveis do relevo oceânico, tornou-se um ponto vital para a conexão de cabos submarinos, ligando a Europa, a África e as Américas. Grandes empresas de telecomunicações, tanto nacionais quanto multinacionais, têm operações significativas na cidade.