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Fungo resistente a medicamentos se espalha rapidamente em hospitais, alerta Europa

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O Centro Europeu de Prevenção e Controle das Doenças (ECDC) emitiu um alerta crítico nesta quinta-feira (11) sobre a propagação “rápida e generalizada” do fungo letal Candidozyma auris (C.auris) nos hospitais europeus, alertando para uma ameaça crescente à segurança dos pacientes mais vulneráveis. O patógeno, que pode causar infecções fatais com taxa de mortalidade de até 60%, tornou-se motivo de preocupação urgente para autoridades sanitárias continentais.

Os dados epidemiológicos revelam um cenário alarmante de crescimento exponencial. Entre 2013 e 2023, foram documentados mais de 4.012 casos de infecção por C.auris nos países da União Europeia e Espaço Econômico Europeu, com um salto significativo para 1.346 casos reportados apenas em 2023 por 18 países – representando aumento de 67% em relação ao ano anterior.

Características mortais do patógeno

O Candidozyma auris, anteriormente denominado Candida auris, descrito pela primeira vez no Japão, em 2009, apresenta uma combinação letal de características que o tornam particularmente perigoso no ambiente hospitalar. O fungo causa principalmente casos de candidemia – infecção grave na corrente sanguínea – especialmente em pacientes críticos internados em unidades de terapia intensiva, onde as condições de vulnerabilidade imunológica são mais acentuadas.

“A preocupação por este patógeno radica principalmente em que causa casos de candidemia, é resistente a antifúngicos e provoca surtos em unidades de cuidados intensivos, onde os pacientes são mais graves”, explicou Juan Vicente Mulet Bayona, microbiologista clínico do Consórcio Hospital de Valencia, em declarações ao Science Media Centre España.

A letalidade do fungo está diretamente relacionada à sua resistência intrínseca ou adquirida a múltiplos medicamentos antifúngicos utilizados na primeira linha de tratamento das candidiases invasivas. Estudos demonstram resistência elevada ao fluconazol e, em menor medida, à anfotericina B, anidulafungina, caspofungina, micafungina e voriconazol – os principais arsenal de medicamentos disponível atualmente.

Propagação descontrolada na Europa

A distribuição geográfica dos casos revela uma concentração preocupante em cinco países europeus. A Espanha lidera com 1.807 casos acumulados na década, representando 45% de todas as infecções registradas no continente, seguida pela Grécia com 852 casos, Itália com 712, Romênia com 404 e Alemanha com 120 infecções.

“O C.auris espalhou-se em apenas alguns anos – desde casos isolados até se generalizar em alguns países. Isto mostra a rapidez com que pode se estabelecer nos hospitais”, alertou Diamantis Plachouras, chefe da equipe de Resistência Antimicrobiana e Infecções Associadas aos Cuidados de Saúde do ECDC.

Surtos recentes foram documentados em Chipre, França e Alemanha, enquanto Grécia, Itália, Romênia e Espanha já não conseguem distinguir surtos específicos devido à disseminação regional ou nacional generalizada. Em várias dessas nações, a transmissão local sustentada ocorreu apenas alguns anos após a detecção do primeiro caso, evidenciando a velocidade explosiva de propagação hospitalar.

Mecanismos de resistência e persistência

O que torna o C.auris particularmente letal é sua capacidade excepcional de persistir por semanas em diferentes superfícies e equipamentos médicos, criando reservatórios permanentes de contaminação no ambiente hospitalar. Nem todos os desinfetantes hospitalares convencionais são eficazes contra este patógeno, fazendo com que protocolos rotineiros de limpeza sejam insuficientes para impedir sua disseminação.

A transmissão ocorre principalmente por contato direto com fluidos corporais de pacientes infectados – incluindo sangue, drenagem de feridas, urina, fezes e catarro – mas também através do contato com equipamentos ou superfícies contaminadas onde o fungo permanece viável. Esta dupla via de transmissão torna o controle particularmente desafiador em unidades de cuidados intensivos.

Os pacientes mais vulneráveis incluem aqueles com sistema imunológico comprometido, portadores de doenças crônicas como câncer ou diabetes, indivíduos submetidos recentemente a cirurgias, pacientes com internações prolongadas ou repetidas, portadores de dispositivos médicos invasivos como cateteres e tubos de ventilação, e pessoas com feridas abertas.

Falhas críticas na vigilância europeia

O relatório do ECDC expõe lacunas alarmantes nos sistemas de vigilância e preparação para controle de infecções em toda a Europa. Apenas 17 dos 36 países participantes possuem atualmente sistema nacional de vigilância para C.auris, e somente 15 desenvolveram diretrizes nacionais específicas para prevenção e controle.

A ausência de vigilância sistemática e notificação obrigatória significa que o número real de casos provavelmente está dramaticamente subestimado, representando apenas “a ponta do iceberg” da verdadeira extensão da disseminação. Muitos hospitais ainda não realizam busca ativa de pacientes colonizados, permitindo que o fungo se estabeleça silenciosamente antes da detecção.

Portugal registrou apenas quatro casos em 2023, contrastando drasticamente com os números de Espanha e Grécia, uma disparidade que pode refletir tanto diferenças reais na disseminação quanto variações significativas nos sistemas de detecção e notificação dos casos.

Sinais de alerta e manifestações clínicas

Os sintomas da infecção por C.auris não apresentam padrão característico específico, variando conforme o local da infecção – seja corrente sanguínea, feridas ou outros locais. Os sinais de alerta mais relevantes incluem febre persistente superior a 38°C e calafrios que não melhoram após administração de tratamento antifúngico convencional.

A identificação precisa requer testes laboratoriais especializados, uma vez que métodos convencionais de identificação podem falhar em detectar corretamente este patógeno. Esta dificuldade diagnóstica contribui para atrasos no tratamento adequado e facilita a propagação nosocomial não detectada.

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