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Nasa encontra o ‘sinal mais claro’ de vida antiga em Marte

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O rover Perseverance da NASA descobriu em Marte aquela que pode ser a evidência mais significativa de vida antiga já encontrada no planeta vermelho. A descoberta foi anunciada oficialmente na quarta-feira (11) após um estudo publicado na revista científica Nature.

A amostra, batizada de Sapphire Canyon, foi coletada em julho de 2024 de uma rocha em formato de ponta de flecha chamada Cheyava Falls, localizada na formação Bright Angel, às margens do antigo vale fluvial Neretva Vallis na Cratera Jezero. Esta região abrigava um lago há mais de 3,5 bilhões de anos, quando Marte ainda possuía condições úmidas favoráveis à vida.

Minerais revelam possível atividade biológica

Os primeiros a coletar dados sobre esta rocha foram os instrumentos PIXL (Instrumento Planetário para Litoquímica de Raios-X) e SHERLOC (Varredura de Ambientes Habitáveis ​​com Raman e Luminescência para Orgânicos e Químicos) do Perseverance. Ao investigarem as Cataratas de Cheyava, uma rocha em forma de ponta de flecha medindo 1 metro por 0,6 metro, eles encontraram o que pareciam ser manchas coloridas. As manchas na rocha poderiam ter sido deixadas por vida microbiana se esta tivesse utilizado os ingredientes brutos da rocha, carbono orgânico, enxofre e fósforo, como fonte de energia.

Em imagens de alta resolução, os instrumentos encontraram um padrão distinto de minerais dispostos em frentes de reação (pontos de contato onde ocorrem reações químicas e físicas) que a equipe chamou de ‘manchas de leopardo’. As manchas continham a assinatura de dois minerais ricos em ferro: vivianita (fosfato de ferro hidratado) e greigita (sulfeto de ferro). A vivianita é frequentemente encontrada na Terra em sedimentos, turfeiras e ao redor de matéria orgânica em decomposição. Da mesma forma, certas formas de vida microbiana na Terra podem produzir greigita.

O rover Perseverance da NASA descobriu “manchas de leopardo” em uma rocha avermelhada apelidada de “Cataratas de Cheyava” na Cratera Jezero de Marte em julho de 2024.
NASA/JPL-Caltech/MSSS

“Essas reações parecem ter ocorrido logo após a deposição da lama no antigo lago de Jezero. Na Terra, reações como essas, que combinam matéria orgânica e compostos químicos na lama para formar novos minerais, são geralmente impulsionadas pela atividade de micróbios”, explicou Joel Hurowitz, cientista planetário da Universidade Stony Brook e autor principal do estudo.

A análise revelou também a presença de carbono orgânico, enxofre, ferro oxidado e fósforo – elementos que, combinados, poderiam ter fornecido energia para formas de vida microbianas. Os sedimentos da região são compostos de argila e silte, materiais que na Terra são excelentes preservadores de sinais de vida microbiana.

Cautela diante da descoberta histórica

Apesar do entusiasmo, os cientistas mantêm cautela rigorosa em suas conclusões. “A razão pela qual não podemos afirmar que isso seja mais do que uma possível bioassinatura é que existem processos químicos que podem causar reações semelhantes na ausência de biologia”, alertou Hurowitz.

Os minerais identificados também podem se formar por processos não biológicos, como condições específicas de temperatura e acidez extremas. No entanto, as condições da rocha analisada não sugerem esses cenários extremos, fortalecendo a hipótese biológica.

Sean Duffy, administrador interino da NASA, foi otimista ao avaliar a descoberta: “A identificação de uma possível bioassinatura é uma descoberta histórica, que avança nosso entendimento sobre o Planeta Vermelho”. Ele acrescentou que esta pode ser “o sinal mais claro de vida que já encontramos em Marte”.

Missão busca respostas definitivas

A amostra Sapphire Canyon é uma das 27 coletadas pelo Perseverance desde seu pouso em fevereiro de 2021. Cada amostra foi cuidadosamente selada em tubos de titânio esterilizados para preservar sua integridade química durante anos de armazenamento na superfície marciana.

A confirmação definitiva sobre a natureza biológica ou não dos minerais encontrados dependerá da missão Mars Sample Return, uma parceria entre NASA e Agência Espacial Europeia planejada para trazer as amostras de volta à Terra na década de 2030. Laboratórios terrestres equipados com espectrômetros de massa e microscópios eletrônicos avançados poderão realizar análises isotópicas que diferenciem origens biológicas de abióticas.

Katie Stack Morgan, cientista do projeto Perseverance, destacou que a descoberta resulta de “anos de dedicação e colaboração de mais de mil cientistas e engenheiros” do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA e instituições parceiras.

Os dados da análise já foram disponibilizados para a comunidade científica global, permitindo que outros pesquisadores realizem estudos adicionais que possam confirmar ou refutar o potencial biológico da amostra. Esta transparência científica é fundamental para validar uma descoberta de tamanha importância para a astrobiologia.

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